Com
a injeção de combustível, um veneno leve com troca
do comando de válvulas exige
mais técnica. Veja com se faz um veneno em motores com gerenciamento eletrônico.
Algum
tempo atrás, quando só havia motores com carburador, era
muito comum trocar os comandos de válvulas, colocando um mais "bravo"
que o original. Bastava trocar o comando e ajustar a alimentação,
alterando alguns giclês do carburador com poucas ferramentas. Era
a "giclagem", acerto final do motor, geralmente feito na estrada, com o
preparador levando a sua preciosa "caixa de giclês", uma espécie
de parafuso cim um furo que gradua a passagem do combustível e do
ar. Os ganhos (quase sempre de potência) eram muitas vezes surpreendentes,
quando bem feitos os "acertos" nos motores carburados. Os carros não
tinham catalisadores e, por isso podiam trabalhar "ricos" (com excesso
de combustível) e isso compensa alguma mancada técnica. Em
compensação, passavam a consumir muito - mas também
a gasolina era barata - assim como a poluir bastante.
Com o tempo, os motores ganharam sistemas de injeção eletrônica e, os mais sofisticados ou esportivos, receberam ainda duplo comando, além dos cabeçotes serem multi-válvulas. Isto é, cada cilindro recebe três ou mais válvulas no lugar das duas tradicionais. Além disso, a tecnologia dos fabricantes evoluiu muito (com o uso dos computadores e laboratórios de motores sofisticados) e os "venenos de fábrica" também se concentraram nos comandos de válvulas, unidos à tecnologia da injeção eletrônica. Um exemplo é o motor VTEC dos Honda com duplo comando de válvulas de ação variável. Com isso, se chega a gerar 170 cv num motor com apenas 1.600 cc de cilindrada. Na prática, existe uma troca de comando de válvulas com o motor funcionando, com a ajuda da eletrônica, algo como "conserto de avião em vôo". Escolhendo Com toda esta revolução tecnológica, todos os fabricantes aperfeiçoaram muito o desenho das válvulas, que quase sempre conseguem unir, da melhor maneira possível, um bom torque em baixa rotação com boa potência em alta rotação e ainda minimizar consumo de combustível e o nível de poluição ambienta. Por tudo isso, está bem mais rara a troca de comando para melhorar o rendimento do motor. E tem mais: em motores atuais, depois de trocar o comando, o ajuste da injeção de combustível é bem mais complexa que a calibragem de um carburador, exigindo um bom nível de conhecimento técnico e equipamento adequado. Mesmo
assim, ainda se pode trocar o comando num "veneno leve", adaptando o carro
para um uso particular ou o gosto do motorista. De qualquer forma o comando
deve ser bem escolhido e logo após a troca deve deve-se checar se
o sistema de injeção conseguiu se adequar ao novo funcionamento
do motor.
Alguns sistemas
de injeção eletrônica têm uma faixa mais larga
de tolerância, se adaptando automaticamente ao novo comando, principalmente
se este não for muito diferente do original. A própria centralina
escolhe novas curvas de alimentação e de avanço de
ignição, fazendo eletronicamente a nova regulagem baseada
nos novos dados enviados pelos muitos sensores do motor. Em sistemas de
injeção com poucos recursos eletrônicos (ou se o novo
comando for muito bravo, bastante diferente do |
original)
um novo chip de injeção deverá ser colocado, especialmente
feito para a nova curva de potência e torque do comando "esportivo".
Ao se tocar o comando original, uma regra continua básica, tanto para carros carburados quanto injetados: dificilmente haverá ganho de torque e potência ao mesmo tempo. Quando um comando privilegia a potência do motor em alta rotação, obrigatoriamente existirá perda de torque em baixa rotação, e vice e versa. Ou seja: com um comando muito esportivo, o carro irá ganhar em velocidade final, mas ficará mais ''bobo" em arrancadas normais e trânsito urbano. Embora haja muitos comandos especiais - muitos para a linha de motores Volkswagen AP - se pode também optar por um comando original de um motor maior e mais esportivo. Por exemplo: colocar um comando de Gol GTI 2.0 (oito válvulas) num motor 1.8 torna o rendimento do carro mais esportivo. Já nos motores GM dos Vectra 16V (2.0 e 2.2), com duplo comando no cabeçote, pode-se colocar os dois comandos que equipavam a versão GSI, de 150 cavalos. Quando
se pensa em mudar o comando de válvulas, deve-se levar em conta
o uso do carro ou se existe alguma característica que não
agrada ao proprietário. Um bom exemplo está nos motores 1.0
de 16 válvulas que, pequenos e com quatro válvulas por cilindro,
apresentam arrancadas fracas e só rendem bem em alta rotação,
em torno das 4.000 rpm. Neste caso, muitos proprietários preferem
colocar comandos que aumentem o torque em baixa rotação,
ainda que se perca um pouco de potência nas altas rpm.
Ao se optar por comandos realmente "bravos", que trazem muita potência mas só nas rotações elevadas, o carro pode ainda ficar com a marcha lenta irregular, um problema a ser amenizado com o uso de polia regulável no comando para que se possa posicionar melhor o ponto do comando (enquadramento) e conseguir um melhor funcionamento em marcha lenta e baixas rotações. É
bom ressaltar que dificilmente a simples troca de comando deixará
o carro um "canhão", principalmente nos motores com injeção
eletrônica. Existe uma série de pequenos venenos que, somados,
acabam fazendo uma boa diferença. Além da troca de comando,
da polia regulável e do chip especial na injeção,
pode-se ainda colocar um escape dimensionado ou aumentar o corpo de borboleta
da injeção para maior passagem de ar. Tudo isso pode ser
auxiliado por um retrabalho no cabeçote, colocando válvulas
maiores e polindo os dutos de entrada da mistura ar/combustível
e saída de escapamento.
Trocando Em trabalho conjunto com o Centro Automotivo Finardi e o técnico em injeção eletrônica Ronald Funari, MECÂNICA mostra a desmontagem e a troca do duplo comando (no cabeçote) de um Gol 1.0 16V. o novo par de comandos privilegia o torque em baixa rotação, já que o proprietário reclamava de "pouca força" em arrancadas. Acompanhe OBS.: para se realizar o serviço de troca de comando, deve-se Ter um bom nível de conhecimento de mecânica e ferramentas específicas. Em serviços nesta área do cabeçote, um comando colocado fora de posição (em relação ao virabrequim) acarreta o "atropelamento" das válvulas, danos no cabeçote, na cabeça dos pistões e nas próprias válvulas. |
Troca
de Comando
1. Antes de retirar qualquer peça do motor para se chegar ao comando, é necessário deixar sincronizado o comando e o virabrequim, alinhando a marca O/T (ponto zero). Para isso, deve-se virar o motor manualmente com uma chave na polia do motor. Gire até a marca "O/T" da engrenagem do volante (atrás do motor, por um local apropriado) ficar alinhada com a seta. Motores com distribuidor no bloco precisam também ter a posição do motor do distribuidor colocada no ponto (alinhada).
2.
Desmonte o filtro de ar, próximo do cabeçote do motor, e
retire a capa protetora da correia dentada.
3.
Solte o esticador da correia dentada na parte superior da tampa. Remova
a correia dentada da polia do comando e da polia do virabrequim.
4. Retire os
parafusos da tampa de válvulas com chave "L". Este procedimento
deve ser feito sempre de maneira cruzada e alternada para não empenar
a tampa. Retire a tampa de válvulas.
5.
Agora, retire os mancais que seguram o comando, de modo cruzado e alternado,
usando também uma chave "L" na medida exata dos parafusos.
6. Depois de
retirar todos os mancais, retire o(s) comando(s) de válvulas. |
7.
Coloque o(s) comando(s) novos. Para sincronizá-lo(s), há
diferenças entre comando simples e duplo: a) no comando simples,
deve-se alinhar a marca que fica na polia do comando (esta marca deve ficar
paralela à parte superior do cabeçote, no lado das velas);
b) no caso dos comandos duplos, deve-se alinhar as duas marcas dos comandos
de modo paralelo e horizontal
8. Depois de alinhar o comando no cabeçote, confira se a marca O/T não saiu do lugar no volante do motor. Coloque a correia dentada e faça o esticador dar pressão na correia. Antes de colocar a tampa de válvulas e a capa da correia dentada, gire o motor duas voltas completas (manualmente, usando uma chave na polia do motor). Confira novamente todo o ponto do motor (no virabrequim, comando e distribuidor, se houver).
9. Para remontar tudo, deve-se repetir a seqüência de modo inverso, aproveitando para trocar a junta da tampa de válvulas e a própria correia dentada. 10. Carros com tuchos hidráulicos não necessitam de regulagem das válvulas. Já nos carros com tuchos mecânicos, será necessária uma nova regulagem baseada nas folgas especificadas pelo fabricante do carro ou do comando. Recomenda-se fazer esta etapa em oficina, pois é necessário grande conhecimento, ferramentas especiais (como o micrômetro) e também reposição das pastilhas que regulam as folgas no "copos" de válvula.
11. Depois de remontar tudo, é necessário checar o ponto e o avanço da ignição com uso de lâmpada estroboscópica. |
Acertando
a Injeção Eletrônica para o novo comando:
De acordo com o novo tipo de comando e também com o sistema de injeção, deverá ser feito o acerto na curva de ignição e injeção do carro. Há dois tipos de sensores que, basicamente, diferenciam os sistemas e o acerto a ser refeito. O sensor de fluxo de massa de ar (MAF) mede o fluxo de ar antes da borboleta de aceleração, permitindo maior ajuste. Já se o sensor usado for do tipo MAP, que mede a pressão do ar aspirado no coletor de admissão, será mais difícil de ajustar. Nesse caso, geralmente o chip será trocado por outro com novas curvas de ignição e injeção, independente do tipo de injeção (monoponto ou multiponto). 1. Antes dos ajustes, o técnico fará uma avaliação rodando com o carro (teste de dirigibilidade). Depois, o profissional irá determinar exatamente os ajustes a serem feitos para o motor não ficar com falta ou excesso de combustível com o novo comando de válvulas. Para isto, são usados instrumentos de medição eletrônica, como scanner e medidor dos gases do escape (medidor de CO e hidrocarbonetos). 2. Como geralmente o novo comando, mais esportivo, privilegia a potência em alta rotação, é diminuída a velocidade do |
fluxo
de mistura ar/combustível em baixa rotação, com perda
de rendimento e também aumento excessivo da pressão no coletor
de admissão. Daí a necessidade de "empobrecer" a mistura
em baixas rotações e enriquecer nas altas rotações.
3. Em carros como os Corsa 1.0 e 1.4 EFI, Gol GTI e Escort XR3 antigos, não se pode trocar o chip, devido a uma limitação do sistema (não há chip destacável nestes casos). Contudo, pode-se trabalhar com o avanço inicial de ignição nos carros com distribuidor para compensar esta limitação. 4. Nos demais carros em que se pode trocar o chip da injeção, será instalado um novo chip com curvas de avanço e injeção mais adequadas para todas as rotações.
6. O carro será testado novamente - na prática e com aparelhagem - para confirmar se o novo chip está bem ajustado para o motor e o comando. Se os ajustes forem bem feitos, haverá um aumento de consumo (entre 5% e 20% dependendo do comando) e o motor ficará mais "redondo" em qualquer faixa de rotação, já que a nova curva de avanço e injeção estarão dimensionadas para o novo comando. |